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23/01/2009

Sazonema


(Patnem, sul de Goa, fronteira com Karnataka)



sabe tão bem o teu cheiro no inverno

pela manhã lembra orvalho a florir
na primavera que abres em mim

paira no dia como um lótus
entre o verão das coisas e o outono da tarde

depois exala néctar em gotas de mimo
ao sossegares o cabelo no ombro da minha noite



"

David Bowie – Wild Is The Wind

30/11/2008

Nas nossas mãos...


o nunca e o sempre
diluem-se
como ondas quentes
[dos certos talvez da Vida]



(Cherai, Kerala, Novembro de 2008)



Jackie Wilson - (Your Love Keeps Lifting Me) Higher And Higher

30/09/2008

Divisa

**

prescindo dos céus
das terras
das gentes

não do teu beijo molhado em nascentes


**

(Alhambra, Setembro de 2008)

Dias bons, cheios de Vida.

Até breve.

Lykke Li - Dance Dance Dance

31/08/2008

Transfiguração


para adornar o banho que me lava o olhar [quando o sol desce corado por te aquecer a água] chamei flores brancas da ilha mas ao verem o jardim dos teus gestos tomaram a forma de pássaros turquesa e voaram longe para perfumarem espuma ainda por te afagar


como eu
não resistiram à tua dança no mar

Jack Johnson – Better Together

31/07/2008

Verbo

às vezes não sei redigir o meu amor
nem se há sentido em tentar

às vezes não sei dizer quanto te sinto
nem porque o quero grafar

pinto vocábulos sem termo

ilumino beijos manuscritos

[num carrossel aborrecido
de caracteres sem sentido
que enodoo no papel]


até que os teus lábios desenham um ‘amo-te’
as mãos me brincam os cabelos
os pés prometem amaciar o meu dormir

e sozinhas
as palavras fazem-se verbo

falam como mar
tocam como ondas
correm como rio urgente da maresia

depois morrem a sorrir
e renascem gravadas no som das marés


quando as vou ler
ouço-as ainda dizer

'menina linda tu és'



The Wannadies - You And Me Song

25/06/2008

Dúvida

o baile das árvores ao vento lembrou-me o teu cabelo ao sair da água

mergulhei esquecido na floresta da noite que se abria já em rio e no regresso pela luz clara tropecei em raízes perfumadas do teu sorriso e no peito senti o arranhar de flores espinhadas de beijos teus


não
não eras tu

foi o vento nas árvores
ou talvez a morfina do sono atrasado
numa noite quente reservada a fingir-me sem ti

Joss Stone - Jet Lag

Editei para trocar o vídeo. Retiraram do YouTube o "All Flowers In Time (Bend Towards The Sun)" do Jeff Buckley com a Liz Fraser. Parece que é um problema comum a tudo o que é relacionado com o Jeffito e, infelizmente, como sabemos, a culpa não é dele. Quando estiver inspirado de tempo faço um. Aquele tema diz-me muito.
Deixo a Joss Stone que não é propriamente uma suplente. Escolhi a canção que estava a ouvir - jetlagado em muitos sentidos - quando deparei com o síndroma pré-menstrual youtubiano. Além do mais, gosto muito desta loira com voz de ébano e coração branco. Espero que ela usufrua da estadia por paragens vasantianas. Por aqui também se anda descalço...

29/04/2008

Mala

quando tenho de partir
levo a água do teu corpo para beber
e arrumo o sabor num fruto para ter fome

a saudade vai como mapa
[não há rumo que hesite o meu destino]

o beijo abriga a minha pele
[a distância é só um manto]

e viajo

e amo

tanto para lá de muito
tanto para lá de tanto
que sei voar-te os olhos de qualquer recanto




Nick Cave – The Ship Song

22/03/2008

Monsoon

lembrei


dias escritos pela água das cores da monção

arco-íris por iguarias

brindes ao teu olhar com cervejas de lua




Monsoon - (por mim e) Luka Bloom

22/02/2008

Água e sal

tantos oceanos através

mas só percebi a palavra mar quando com as mãos te ondulei o corpo e com a boca sorvi do teu gozo a água profunda vinda do ventre em vagas onde deixei em espuma o sal


Matt Costa - Sunshine

29/01/2008

Um ontem

sentado no parapeito de um dia cansado
vi o vento pular a janela aborrecida
para me dar a massagem do teu cheiro
o aroma a manga que deu cor ao pôr-do-sol

afogadas as âncoras do tédio
voltaram no respirar as suaves ondas da vida
e apanhei o barco secreto para o mar da tua pele

para trás ficou a quimera dos domáveis
rumei livre aos portos amenos do teu corpo

marés depois
seguro do farol que navega o nosso amor
sosseguei em sono algures nas travessias

para sonho
escolhi o teu beijo como despertar

ao leme
ficou a madrugada



The Psychedelic Furs – Until She Comes

09/01/2008

Viva! Yay! Um BOM 2008!

à procura de um poema
alei o mar e voei com ele o vento

para lá do sol
descobri as tuas sardas a brilhar no firmamento

Talking Heads - Thank You For Sending Me An Angel

Post-scriptum (que queria ser post e a quem expliquei a falta de decoro de tal desejo depois da travessia de dias onde o Ocidente tem como civilização o cartão de crédito)


Achei por bem contar a todos os que me fazem sentir contente com o vosso passar que, durante esta minha ausência (por motivos diversos mas quase sempre agradáveis), o J.F. me chateou inúmeras vezes, ligando e colocando pressão no sentido de dar um interessante, rápido e bom destino à sua história. Disse-me que os seus nobres e ocupados desígnios não lhe permitiam a paciência de ter que consultar os relatórios diários sobre a eminência de um novo post, aqui, no Vasant Utsav. Acrescentou, ainda, que não tinha exterminado este blog - como fez com tantos outros - por não fazer sequer sentido dedicar-lhe energia pois aparece no “Índice JF” numa rastejante posição.

Da última vez que o telefone transpirou daqueles lados (sou particularmente avesso a ringadelas quando estou a fazer algo de que gosto muito) fiz-lhe a vontade e enviei um dos finais possíveis e pronto a ser publicado, se ele assim o quisesse.

Deixo-vos uma cópia de uma parte do e-mail. A outra, talvez demasiado provocatória e pouco literata no calão, poderia colocar em risco, se a publicasse, a integridade dos vossos espaços on e offline. Privo-me de vos expor, inocentes, a tão incauta possibilidade de injusta e torpe retaliação. Cá vai, então:


Foi com um choque nos antípodas do imaginável que o país e o mundo receberam a notícia da prisão de João Fatalista, na Nova Zelândia. A CNN acabou de revelar que tinha sido detido por tentativa de violação de uma ovelha local. Sabia-se apenas que ele se encontrava nas ilhas para fazer os discursos de abertura e encerramento na cimeira mundial “O rugby, o gado ovino e o aquecimento global”, a convite de Al Gore.

Ao ser conduzido a prestar as primeiras declarações às autoridades, em Wellington, conseguiu ouvir-se um breve depoimento, em português, no meio da confusão de repórteres que o rodeavam. Esse momento fatal para a carreira brilhante de um homem amargo foi captado por José Rodrigues Albarran Fino, graças a uma ímpar tenacidade forjada em várias situações de guerra aberta e que se encontrava nas redondezas para cobrir a descoberta de mais uma lula gigante nos mares de Aotearoa, nome do país em Maori e que significa “terra da longa nuvem branca”.

Com um sorriso ausente e um olhar alucinado mas estranhamente humano, o autor d´"A Verdade é Amarga" parecia até sentir-se em casa. Como nunca antes. Esta é a transcrição fiel das palavras que o repórter lhe conseguiu tosquiar:
“Ela era doce. Era tão doce…”.



Ainda estou sem saber se este é o último terminal na história blogante de João Castello Delmonte Fatalista, "O Azedo". Mas, pelo menos, o telemóvel não tornou a interromper afazeres de amor em horas mais visíveis de expediente…

30/11/2007

Café com leite

gosto dos "amo-te" que nascem em mim e digo ou escrevo ou não

a certas horas, alguns têm o som de um "bom dia" e enrolam-se de mimo para se destaparem com o desejo dos teus lábios que das cerejas têm a cor e de ti o leite que deixas nos meus quando sou o teu café e fazemos de nós a manhã


[dizer “amo-te” chega
dizeres-me “amo-te” quase sobra

é um pleonasmo que o nosso beijo afoga]

Guillemots - Made-Up Love Song #43

19/11/2007

Um regresso a casa

quando a noite desce fria e um vento embirrento sai
quando o silêncio aparece mas o desagrado do dia, teimoso, não cai lembro o alento quente, o gozo de ti latente e danço o caminhar

avanço abrigado pelo apelo do toque do teu cabelo

apressado pelos teus pés despidos para amar
chego aos coloridos do nosso castelo

na ameia de um olhar revelo a minha fome cheia

jantamo-nos até à ceia


[depois, escrevo palavras
ainda

porque és prendada de linda]



Múm – We Have A Map Of The Piano

23/10/2007

Metafísica brejeira? Não, é uma...

*

descrição fugaz quase religiosa e em formato popular de um espreguiçar sexual num virar do sono




o visionário ficou alerta
“que linda luz, será divina?”

era teu santuário com a porta aberta
e fiz truz-truz
em ti menina

Ben Harper - Sexual Healing

16/10/2007

Olá! Dia bonito, não está?

Na manhã dos teus anos,

um pássaro cumpriu o destino e acordou-me para ouvir as ondas esfregarem-se ansiosas dos teus pés para molhar. O sol nasceu incerto das cores a dar ao céu por não saber que tons de roupa ias usar. O vento enlevado por te ver nua jurou assobiar aragens suaves de levante para te inebriares até ser lua comigo o teu amante.

Marc Chagall - Bride



John Mayer - Your Body Is A Wonderland

26/09/2007

Sonho cumprido

Quando era pequeno e as cores falavam nos meus olhos e todo o vento era música e cada brincadeira uma dança e cada palavra de amor um cabelo da tua trança ainda a ser tecida nos céus, sonhei que quando grande era feliz e nunca esperava muito pelo teu olhar.

Múm – Green Grass Of Tunnel


Os Múm são uma banda islandesa que acabou de editar (há dois dias) o seu último álbum “Go Go Smear The Poison Ivy”. Espreitem o vídeo, vale mesmo a pena. Mesmo.

As Amiina são quatro fadinhas, também islandesas, que vou ter o prazer de ver na próxima semana, na Casa da Música, no Porto. Costumam acompanhar os Sigur Rós em concertos e em estúdio. O seu álbum “Klurr” saiu em Março deste ano.

Apesar de ter pouco mais de 300 mil habitantes, a música da Lýðveldið Ísland está longe de ser só Björk. E eu agradeço: takk!


Amiina – Seoul

18/09/2007

Boa viagem

hoje
que não te posso adormecer
desejo que atravesses a noite
com o som das ondas
que roubei de um beijo nosso
e escondi na tua almofada

hoje
que estou longe
dei ao sol uma licença de sono
e deixei para despertares
a luz que trago nas mãos
desde que te afaguei os cabelos
na primeira manhã


[viaja sem cuidados
o nosso Abraço é seguro

espero-te no primeiro olhar do dia]



Sigur Rós - Glósóli

13/09/2007

Sucedâneo de um poema erótico encomendado

pediste-me para parar
tomar o pequeno-almoço
ver o tempo para hoje

pediste-me para
"sei lá... já sei!"
escrever um poema erótico


que ocupasse os dedos aí

que tinhas uma reunião de trabalho

que eu era mau

que não sabias porque falavas

que me querias no teu corpo

que eu era bom

que me amavas mas tinhas de ir

que não devia dizer-te "vai"

que não devia dizer-te "vem"

que eu era bom e mau

que nunca sabia esperar até logo

que a culpa era do duche da manhã

que eu não devia secar o teu corpo assim

que temos uma semana perto só para nós

que eu era muito mau e feio e

que NÃO devia fazer isso ao teu peito

que me batias se parasse

que eu era lindo


depois vi-te vestir
arranjei-te a saia e o cabelo
enrolaste na boca o meu sorriso
(guardei a tua saliva para pequeno-almoço)

e foste trabalhar


[aqui jaz o sucedâneo do teu pedido]


Muse - Invincible

06/09/2007

Quando o amor foi dormir

o turquesa e cereja dos céus
eram já meus

pedi para me fechares os olhos
no castanho dos teus



The Softlightes - Heart Made Of Sound

17/08/2007

Indiscrição

entrei pelos teus olhos
para ver como estavas

sacudi nuvens
lavei mentiras
arejei a confusão
sequei lágrimas
fiz café para o teu sono

deixei-te no coração
mais uma turquesa
para a tua colecção

e saí

[lembrei-me do dia
em que disseste
que não sabia cuidar de mim]

táxi!

siga a maresia
por favor


Coldplay - Fix You