30/05/2007

Do Silêncio II

Claude Monet - Impression, soleil levant

Do Silêncio I


This Mortal Coil - Song To The Siren

28/05/2007

Com título

[Allegro assai e molto cantabile]

obscura de sol
ébrio de água
criámos uma seita

secreta como o mar nosso deus zeloso
eu velo pelo teu olhar
tu permites-me esse gozo

és a minha pagã
a ti fui consagrado
comemos da mesma romã
extinguimos o pecado

ocultos na claridade
viver contigo não cansa
amanhecemos pela tarde
a noite é a nossa dança

tu e eu criámos uma seita

só de nós dois

não é perfeita?


Pôr do Sol em Haryana (2007)

23/05/2007

Sem título

Não basta abrir a janela

Para ver os campos e o rio.

Não é bastante não ser cego

Para ver as árvores e as flores.

É preciso também não ter filosofia nenhuma.

Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.

Há só cada um de nós, como uma cave.

Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;

E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,

Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

Alberto Caeiro






20/05/2007

A manhã vai nascer em breve

E lembrei-me de uma outra manhã, em Bantoli, no Jharkhand. Resolvi fazer um post, por gulodice: as gotas de cor que caíram nesse dia eram feitas do mesmo ar que saboreio de momento e apeteceu-me prolongar a refeição, antes de ir dormir.




Que ar? Um ar que é o mesmo lá, na Austrália, aqui no Porto ou noutro lugar qualquer. Um ar que deixa o coração quente e a alma desperta. O ar de quem pára e respira e repara que a Vida é algo de muito precioso, muito mágico. O ar que me faz sentir muito pequenino e grato. E livre.

É sob a influência desse ar que postarei. Ao acaso. Sem rumo. Postarei, postarei, até que o blog me doa.




Nesse ar os "porquês" param. Existem apenas respostas que clareiam e divertem o Olhar, que resolvem perguntas que não chegaram sequer a ser formuladas. Porque não podiam ser formuladas... Ou acreditam que a imaginação humana é realmente ilimitada? Eu não. Ora vejam:
Se estiver muito calor e tiverem muita sede - a boca já desértica, o oásis da saliva há muito seco - e se olharem para uma garrafa de água (pode ser de litro) e imaginarem que a estão a beber, acham que a sede vai passar? Pois... A imaginação é finita e por si só não existe. Tal como a escuridão:

Um dia, alguém foi contar ao Sol que a Noite estava muito zangada porque, sempre que ele aparecia, ela tinha que partir, tirando-lhe assim o direito a existir. Não fosse ter pele sensível e o médico ter-lhe pintado um quadro negro quando lhe diagnosticou apetência para contrair enxaquecas por alturas do verão e ela já teria ido, pessoalmente, tirar satisfações. O Sol ficou apenas surpreso e disse: "Quem é a Noite? Não conheço. Nunca a vi."

Moral da história? Não tem... É uma evidência. Mas posso arranjar uma, não vá alguém insistir. Que tal: "Não vires o rabo na noite, a aurora pode dar-te um açoite"? Como rima, pode ser que evolua para provérbio popular; e quem viver com alguém do mesmo nome pode ficar precavido...





Como me deu vontade de começar, agora deu-me vontade de acabar. Soube bem, obrigado.

Desculpem não ter tido a mínima intenção de fazer sentido ou tirar alguma conclusão; de fazer boas associações ou comparações esclarecedoras; de começar algo ou continuá-lo com coerência. Não perderam nada. Os pensamentos, afinal, não passam de uma colecção de cromos velhos que assumimos como originais e - pior - acreditamos que é isso que somos. E lá vamos continuando a trocar ideias, muitas ideias, convencidos que há perspectivas novas que ainda não temos no álbum... É uma doença que pode durar uma vida inteira e não ter cura. Protejam-se.


Pronto, por hoje já brinquei aos posts. Uma manhã boa. Respirem a Vida.




"Se não podes estar contente com uma respiração, ainda não começaste a viver…"
Maharaji


14/05/2007

Adicionei música

Está ali mais acima, do lado direito, se a dislexia não me engana. [3ª ou 4ª edição: agora passou a música de fundo: está ao pé do... page footer] Blog meu sem música é como aquela cerveja perfeita, perfeita, perfeita mas... que não é cerveja.

Ah! O palavreado do post inaugural era só para dizer que estou ainda em período de testes blogais.

E porque disse tanto disparate, então? Porque blog meu sem disparates é como aquela manifestação do partido comunista que vi passar, semanas atrás, em Kolkata (ou Calcutta, se preferirem): era perfeita, perfeita, perfeita mas... era uma procissão. Os manifestantes, em vez de gritarem as habituais palavras de ordem, sorriam muito. E cantavam doce.

A política em beatitude. Um louvor às cores da primavera (ou वसंत, se gostarem mais).

Graças aos deuses!



11/05/2007

Em construção

À boa maneira portuguesa - apesar do nome - o período de construção deste blog deverá terminar algures entre hoje e o dia da inauguração.
Qualquer incentivo para apressar a obra será registado com apreço se acompanhado de donativo.




O blogário assegura assim a sua tranquilidade e o direito a criar em sossego, sem a urgência de prazos a cumprir.
Reserva-se ainda o direito de não saber se vai criar, porque vai criar e o que vai criar.

A criação é intemporal - dizem - e aqui, a qualquer momento, o conceito "hora" pode ter a dimensão de século e o conceito "década" pode minutizar-se num segundo.

Agora que as coisas estão claras, fecho a luz e despeço-me com um obrigado imenso, partindo com a certeza que regresso quando voltar.

Até lá, uma Vida boa.