29/01/2008

Um ontem

sentado no parapeito de um dia cansado
vi o vento pular a janela aborrecida
para me dar a massagem do teu cheiro
o aroma a manga que deu cor ao pôr-do-sol

afogadas as âncoras do tédio
voltaram no respirar as suaves ondas da vida
e apanhei o barco secreto para o mar da tua pele

para trás ficou a quimera dos domáveis
rumei livre aos portos amenos do teu corpo

marés depois
seguro do farol que navega o nosso amor
sosseguei em sono algures nas travessias

para sonho
escolhi o teu beijo como despertar

ao leme
ficou a madrugada



The Psychedelic Furs – Until She Comes

09/01/2008

Viva! Yay! Um BOM 2008!

à procura de um poema
alei o mar e voei com ele o vento

para lá do sol
descobri as tuas sardas a brilhar no firmamento

Talking Heads - Thank You For Sending Me An Angel

Post-scriptum (que queria ser post e a quem expliquei a falta de decoro de tal desejo depois da travessia de dias onde o Ocidente tem como civilização o cartão de crédito)


Achei por bem contar a todos os que me fazem sentir contente com o vosso passar que, durante esta minha ausência (por motivos diversos mas quase sempre agradáveis), o J.F. me chateou inúmeras vezes, ligando e colocando pressão no sentido de dar um interessante, rápido e bom destino à sua história. Disse-me que os seus nobres e ocupados desígnios não lhe permitiam a paciência de ter que consultar os relatórios diários sobre a eminência de um novo post, aqui, no Vasant Utsav. Acrescentou, ainda, que não tinha exterminado este blog - como fez com tantos outros - por não fazer sequer sentido dedicar-lhe energia pois aparece no “Índice JF” numa rastejante posição.

Da última vez que o telefone transpirou daqueles lados (sou particularmente avesso a ringadelas quando estou a fazer algo de que gosto muito) fiz-lhe a vontade e enviei um dos finais possíveis e pronto a ser publicado, se ele assim o quisesse.

Deixo-vos uma cópia de uma parte do e-mail. A outra, talvez demasiado provocatória e pouco literata no calão, poderia colocar em risco, se a publicasse, a integridade dos vossos espaços on e offline. Privo-me de vos expor, inocentes, a tão incauta possibilidade de injusta e torpe retaliação. Cá vai, então:


Foi com um choque nos antípodas do imaginável que o país e o mundo receberam a notícia da prisão de João Fatalista, na Nova Zelândia. A CNN acabou de revelar que tinha sido detido por tentativa de violação de uma ovelha local. Sabia-se apenas que ele se encontrava nas ilhas para fazer os discursos de abertura e encerramento na cimeira mundial “O rugby, o gado ovino e o aquecimento global”, a convite de Al Gore.

Ao ser conduzido a prestar as primeiras declarações às autoridades, em Wellington, conseguiu ouvir-se um breve depoimento, em português, no meio da confusão de repórteres que o rodeavam. Esse momento fatal para a carreira brilhante de um homem amargo foi captado por José Rodrigues Albarran Fino, graças a uma ímpar tenacidade forjada em várias situações de guerra aberta e que se encontrava nas redondezas para cobrir a descoberta de mais uma lula gigante nos mares de Aotearoa, nome do país em Maori e que significa “terra da longa nuvem branca”.

Com um sorriso ausente e um olhar alucinado mas estranhamente humano, o autor d´"A Verdade é Amarga" parecia até sentir-se em casa. Como nunca antes. Esta é a transcrição fiel das palavras que o repórter lhe conseguiu tosquiar:
“Ela era doce. Era tão doce…”.



Ainda estou sem saber se este é o último terminal na história blogante de João Castello Delmonte Fatalista, "O Azedo". Mas, pelo menos, o telemóvel não tornou a interromper afazeres de amor em horas mais visíveis de expediente…