08/06/2007

Sem som

Re(li)gata

Quando em lugar de feltro é de barro de Outubro
o calor interior das coxas habitadas
Quando a língua é um barco avançando no escuro
de um canal de Corinto entre pardas escarpas
Quando o cheiro do Mar se desdobra em veludo
Quando rompe na boca o mistério das algas
Quando em baixo o teu pé a triturar-me o surdo
perímetro do sexo encontra a madrugada
Quando mais se aproxima a náutica do culto
Quando mais o altar se mostra navegável
Quando mais eu descubro e restauro e misturo
na crista litoral de súbito ampliada
o ritual do grito o ritual do cuspo
e vês que ninguém mais merece esta homenagem
é que enfim te possuo é que enfim te reduzo
a uma luva uma esponja uma deusa uma nave

David Mourão-Ferreira

7 impressões:

Vanessa Lourenço disse...

Subtil...genial...my kind of language...
And yes, we must thank the gods for that =)
Parece-me que ficou uma história por contar algures com uma japonaise...quero essa história, a curiosidade mora em mim, não é defeito é feitio...haha, beijo*

Tulipa Branca disse...

Muito bonito, obrigada :)

Paulo F disse...

gosto disto pah ás vezes escrevo poemas com esta tematica ;;)

Kátia disse...

Forte.Bem forte.

na estranja disse...

gosto deste poema não conhecia muito bom

Luis Saraiva disse...

também não conhecia este mas é excelente abrço

AmSilva® disse...

tenho um monte de adjectivos para este poema para mim de todo desconhecido, mas deixo aqui apenas uns;
subtil, intenso...

teve um final feliz???