14/02/2009

Uma Flor, uma Doha e um Qawwali


(Flor numa estrada da Índia, Novembro de 2008)




pothi padh padh kar jag mua, pandit bhayo na koye


dhai aakhar Prem ke, jo padhe so pandit hoye


*


a ler livros todos morreram, nenhum ficou sabedor


só fica sábio quem lê as palavras do Amor


Kabir




Aziz Mian - Ye Hai Maikada


Na tradução da doha (couplet, parelha de versos) de Kabir, segui o sentir e a intuição para manter a rima e a linguagem do dia a dia que ele usava, disfarçando assim o meu muito insuficiente conhecimento do hindi. Vale o que vale, pois. Nem tentei via urdu, por razões ainda mais iguais...

Por falar nisso, escolhi um qawwali legendado em inglês para os que, como eu, pescam pouco no mar "urduântico". Se acharem chato não ouçam, se o homem vos parecer feio e estranho, vão antes lá abaixo à playlist e escondam-se.

Para mim, vale a pena ouvir Aziz Mian. Não houve, nem há, muitos como ele. Os pavilhões auditivos do entediante pensamento religioso saberiam isso bem se, como os donos, soubessem alguma coisa de coisa alguma ou escutassem o puro som da Vida que não precisa de mãos ou instrumentos para soar. Ou se, como a cabeça que os segura, não o tivessem esconjurado por não compreenderem o que está entre os sons e as palavras.

Quanto a Kabir...
Pois, quanto a Kabir só sei que hei-de voltar com coisas dele. Kabir não é para dissertar, nem para falar ou concluir. Ao ler-se o que ele dizia e cantava, há meia dúzia de séculos atrás, só se percebe com o coração. A cabeça não chega lá a não ser através dele, quando chega...

A mensagem de Kabir é interior, natural, íntima e sem limites, não é para o pequeno volume craniano onde o cérebro bóia. Hoje em dia, começa a ser moda estudá-lo nas universidades. Que aproveitem e... felizes doutoramentos. Mas posso assegurar-vos que não é por aí que o entendem. Arrogância minha? Não, mas podem chamar-lhe assim. Também não é o oposto. É o que é.

Não confiem muito nos olhos ao ler aquela doha... É só uma aparência. Algo que um "aleixo" do Hindustão ou um guardador de rebanhos da Patagónia podiam ter dito. E também pode parecer e ser assim. Até porque o fundo de qualquer doha de Kabir é ainda mais simples que o emergir do "poço" a que se refere. No entanto, a água que lá existe é real e infindável, seja qual for o tamanho da sede que se transporta. Isso, eu já provei, sei do que falo. Não é letra. Não são letras.

Ah! Porque me perguntaram...
Desactivei os comentários não por falta de educação ou por algum súbito imaginário azedume (sinto-me doce como um laddoo...), mas porque tenho andado e vou andar longe, em muitos sentidos da palavra. No entanto, sintam-se à vontade para dizer coisas. Serão lidas e acolhidas com agrado e responderei logo que possível. O meu email estava no perfil, a última vez que lá fui. Falem, se vos apetecer.

Bem, já me estou a alongar...
Só vos queria deixar o desejo de dias bons e ensolarados de ventos interiores quentes e aconchegantes.


Peace & Bliss