para celebrar uma data especial procurei prendas dignas de ti
passadas as últimas lojas de flores de arco-íris, sedas de estrela cadente, chocolates de orvalho, perfumes de livros, sandálias de mar e CDs duplos de sopa talumein, o teu olhar acordou-me a sorrir
Na tradução da doha (couplet, parelha de versos) de Kabir, segui o sentir e a intuição para manter a rima e a linguagem do dia a dia que ele usava, disfarçando assim o meu muito insuficiente conhecimento do hindi. Vale o que vale, pois. Nem tentei via urdu, por razões ainda mais iguais...
Por falar nisso, escolhi um qawwali legendado em inglês para os que, como eu, pescam pouco no mar "urduântico". Se acharem chato não ouçam, se o homem vos parecer feio e estranho, vão antes lá abaixo à playlist e escondam-se.
Para mim, vale a pena ouvir Aziz Mian. Não houve, nem há, muitos como ele. Os pavilhões auditivos do entediante pensamento religioso saberiam isso bem se, como os donos, soubessem alguma coisa de coisa alguma ou escutassem o puro som da Vida que não precisa de mãos ou instrumentos para soar. Ou se, como a cabeça que os segura, não o tivessem esconjurado por não compreenderem o que está entre os sons e as palavras.
Quanto a Kabir... Pois, quanto a Kabir só sei que hei-de voltar com coisas dele. Kabir não é para dissertar, nem para falar ou concluir. Ao ler-se o que ele dizia e cantava, há meia dúzia de séculos atrás, só se percebe com o coração. A cabeça não chega lá a não ser através dele, quando chega...
A mensagem de Kabir é interior, natural, íntima e sem limites, não é para o pequeno volume craniano onde o cérebro bóia. Hoje em dia, começa a ser moda estudá-lo nas universidades. Que aproveitem e... felizes doutoramentos. Mas posso assegurar-vos que não é por aí que o entendem. Arrogância minha? Não, mas podem chamar-lhe assim. Também não é o oposto. É o que é.
Não confiem muito nos olhos ao ler aquela doha... É só uma aparência. Algo que um "aleixo" do Hindustão ou um guardador de rebanhos da Patagónia podiam ter dito. E também pode parecer e ser assim. Até porque o fundo de qualquer doha de Kabir é ainda mais simples que o emergir do "poço" a que se refere. No entanto, a água que lá existe é real e infindável, seja qual for o tamanho da sede que se transporta. Isso, eu já provei, sei do que falo. Não é letra. Não são letras.
Ah! Porque me perguntaram... Desactivei os comentários não por falta de educação ou por algum súbito imaginário azedume (sinto-me doce como um laddoo...), mas porque tenho andado e vou andar longe, em muitos sentidos da palavra. No entanto, sintam-se à vontade para dizer coisas. Serão lidas e acolhidas com agrado e responderei logo que possível. O meu email estava no perfil, a última vez que lá fui. Falem, se vos apetecer.
Bem, já me estou a alongar... Só vos queria deixar o desejo de dias bons e ensolarados de ventos interiores quentes e aconchegantes.
Uma montagem que (boa ou má) soube bem fazer antes de partir, amanhã, para cores de que já tinha saudades.
Para quem gostar de nitidez de imagem, aconselho um duplo clique no vídeo para um voo rápido até ao YouTube e a possibilidade de, com um 3º clique em "watch in high quality", não embaciarem os olhos com uma provável abordagem míope à pista da má resolução.
Ah! Obrigado por terem passado por aqui neste tempo global de crise. Dizem não haver fuso horário que escape. Dizem...
Mas, permitam-me ter dúvidas: apalpem a alma, respirem um pouco o coração, procurem a água que existe dentro e depois digam se há assim tanto de realmente importante a lamentar.
para adornar o banho que me lava o olhar [quando o sol desce corado por te aquecer a água] chamei flores brancas da ilha mas ao verem o jardim dos teus gestos tomaram a forma de pássaros turquesa e voaram longe para perfumarem espuma ainda por te afagar
o baile das árvores ao vento lembrou-me o teu cabelo ao sair da água
mergulhei esquecido na floresta da noite que se abria já em rio e no regresso pela luz clara tropecei em raízes perfumadas do teu sorriso e no peito senti o arranhar de flores espinhadas de beijos teus
não não eras tu
foi o vento nas árvores ou talvez a morfina do sono atrasado numa noite quente reservada a fingir-me sem ti
Joss Stone - Jet Lag
Editei para trocar o vídeo. Retiraram do YouTube o "All Flowers In Time (Bend Towards The Sun)" do Jeff Buckley com a Liz Fraser. Parece que é um problema comum a tudo o que é relacionado com o Jeffito e, infelizmente, como sabemos, a culpa não é dele. Quando estiver inspirado de tempo faço um. Aquele tema diz-me muito. Deixo a Joss Stone que não é propriamente uma suplente. Escolhi a canção que estava a ouvir - jetlagado em muitos sentidos - quando deparei com o síndroma pré-menstrual youtubiano. Além do mais, gosto muito desta loira com voz de ébano e coração branco. Espero que ela usufrua da estadia por paragens vasantianas. Por aqui também se anda descalço...